Confrontos entre traficantes. Cobranças de dívidas de drogas. Execuções em que a polícia não aponta suspeitos. A violência em Salvador e Região Metropolitana (RMS) deixou o saldo de 22 homicídios, sendo 16 deles entre as 7 horas de sábado e o início da manhã de domingo. Todos os crimes foram cometidos por disparos de armas de fogo, em áreas periféricas da cidade e apresentavam autoria desconhecida. Os sete homicídios registrados pela Central de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar (Centel), na madrugada de domingo, ocorreram nos bairros da Estrada Velha do Aeroporto, Avenida Gal Costa, Comércio, Boca do Rio, Periperi, Pau da Lima e em Camaçari.
Na Rua João Carlos do Sacramento, na Boca do Rio, o marceneiro Jair Pereira de Freitas de 21 anos, foi executado com seis tiros na cabeça e no peito, após discussão em um churrasco do qual participava. Segundo relatos de familiares, Jair brigou para defender um amigo que estava com ele. “Ele estava nesse churrasco com um amigo e de repente começou uma confusão. Jair se meteu na briga para defender o amigo e, no final da festa, quando a maioria já tinha ido embora, o homem que ele discutiu atirou contra ele”, contou a esposa da vítima, Jaqueline Rabelo, de 27 anos.
Casado há um ano e dois meses, Jair fazia serviços com marcenaria e, segundo a família, não possuía envolvimentos ilícitos. De acordo com uma tia, que preferiu não se identificar, muita gente sabe quem é o assassino, mas prefere silenciar diante do medo. “A rua estava cheia de gente, mas ninguém fala do crime. Isso é um absurdo”, afirmou. O caso é investigado pela 9ª Delegacia, da Boca do Rio.
Outro homicídio, registrado ontem, ocorreu dentro da Feira de São Joaquim, em Água de Meninos, no qual Denivaldo Pereira da Silva, de 34 anos, foi assassinado a tiros. Os demais crimes apresentaram como vítima Fabrício da Silva Dourado, de 21 anos, André Souza Santana, de 27, Fernando Gomes dos Santos, de 25, Davi Oliveira Santos, de 24, e um homem de identidade desconhecida na Avenida Gal Costa.
Professor é baleado
A polícia também investiga duas tentativas de homicídio. Uma delas tendo como vítima o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Washington de Souza Filho, baleado nas imediações do Hiper Ideal, no bairro da Pituba, em Salvador. Washington, que leciona na Faculdade de Comunicação (Facom), onde também é coordenador do colegiado, teria reagido a um assalto. O professor foi baleado no peito, pé e perna e socorrido por uma viatura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para o Hospital da Cidade, onde permanece internado.
Corpo encontrado em bambuzal
Mais um corpo é encontrado em áreas identificadas como ponto de desova em Salvador. Na manhã de ontem, um homem sem qualquer tipo de documento que o identificasse foi encontrado morto com marcas de tiros na região da cabeça, em um bambuzal da Estrada Velha do Aeroporto, em Nova Brasília. A vítima aparentava 27 anos e trajava blusa preta com uma bermuda estampada.
Policias da 10ª Delegacia, em Pau da Lima, estiveram no local para analisar a cena do crime. Pegadas do possível autor e um rastro no barro revelavam a possibilidade da vítima ter sido arrastada pelo assassino. “Aqui podemos ver uma pegada forte e as marcas de que ele foi arrastado. É bem provável que ele foi assassinado em outro lugar e trazido para ser jogado aqui”, explicou um policial. O corpo foi submetido a um levantamento cadavérico e, em seguida, removido para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, onde aguardará por reconhecimento de familiares.
A Estrada Velha do Aeroporto, apesar de possuir construções de condomínios fechados, abriga locais usados por criminosos para depositar corpos. “Trabalho neste condomínio e sempre fico sabendo de algum corpo abandonado aqui na área. Ontem mesmo, tinha um na beira do rio, que fica lá embaixo”, relatou um trabalhador da redondeza.
Luta perdida contra as drogas
Continua sem solução o crime que teve como palco a Ilha Amarela, Subúrbio Ferroviário de Salvador. Três corpos de jovens foram encontrados com marcas de tiros, facadas e com sinais de estrangulamento, provocado com uso de uma fita plástica (usada pela polícia como algema). As três vítimas não apresentavam documentos de identificação, mas, na manhã de ontem, familiares compareceram ao Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (ILNR) para fazer o reconhecimento dos corpos. Alisson Cássio Santos, de 17 anos, e Charles Pereira Silva, de 16, foram identificados, o terceiro permanece ignorado.
Ainda desesperado com a morte do filho, o pai de Alisson, Messias Souza dos Santos, de 43 anos, afirmou que o jovem era envolvido com drogas e que, por diversas vezes, tentou tirá-lo do vício. “Há mais de um ano que ele se envolveu com drogas. Trouxe ele para passar uns dias comigo na minha casa, mas ele foi embora e quando voltei para buscá-lo novamente ele fugiu. Infelizmente, não pude fazer nada”, lamentou.
Messias contou que mora no bairro de Plataforma e que Alisson morava no São João do Cabrito com a mãe, a tia e os dois irmãos. Quando estava na casa do pai, o jovem ainda frequentou a igreja para mudar de vida, mas foi inútil. “A mãe dele trabalha com serviços gerais e sempre sofreu com o vício dele. Infelizmente, o fim para quem se envolve com drogas é esse”, afirmou. Familiares de Charles também compareceram no IML, mas não quiseram falar com a imprensa.
Os jovens mortos eram amigos e, segundo familiares, estavam dormindo em uma casa, quando foram abordados e sequestrados por homens armados. Na manhã do último sábado, os corpos dos adolescentes foram encontrados em um terreno da Ilha Amarela. A polícia ainda não encontrou indícios que comprovem a autoria ou a motivação dos homicídios. Investigadores da 5ª Delegacia (Periperi) apuram o caso.
Ex-detento morto no Ogunjá
Por volta das 15 horas de ontem, Adriano Bispo dos Santos, de 19 anos, foi executado a tiros na Avenida Graça Lessa, no Vale do Ogunjá. A vítima, que tinha saído da detenção na última sexta-feira, bebia do outro lado da pista quando foi baleado por um homem. Adriano tentou fugir dos disparos, atravessando a pista, mas foi alcançado e alvejado, morrendo na hora. O autor do crime fugiu sem deixar pistas.
Segundo policiais da 26ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), moradores relataram que a vítima não morava no bairro, mas era conhecida por praticar assaltos na região. “Pelas circunstâncias do crime, parece que estavam só esperando ele sair da cadeia para matá-lo”, suspeitou um militar, enquanto aguardava os peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) para iniciar o levantamento cadavérico.
Documentos de identificação, cerca de R$ 5 e retratos do tipo 3 x 4 foram encontrados no bolso da vítima. No local do crime, muitos curiosos se aglomeraram para acompanhar o trabalho da polícia, mas, temendo represálias, ninguém quis comentar sobre o crime.
De acordo com agentes do plantão da 6ª Delegacia, o crime pode ter sido motivado por vingança, mas somente uma investigação poderá concluir sua real motivação. “Aguardaremos a presença de familiares e testemunhas para solucionarmos esse homicídio”, garantiu um policial. (DP)
Fonte:tribunadabahia