Capelão católico do Exército durante missa (Foto: Divulgação)
Marinha, Exército, Aeronáutica e as Polícias Militares do Amapá e do Rio de Janeiro abriram, somente neste ano, 17 vagas para capelães. Nos quartéis, nada de pegar em armas: apesar de terem um treinamento militar, eles são responsáveis por celebrar casamentos, batizados e formaturas, e visitar hospitais, enfermarias e presídios.
“[O treinamento] Trata-se apenas da parte básica para aprender como funciona a disciplina militar porque a atividade-fim do capelão é a religiosa”, conta Edson Fernandes Távora, de 52 anos, primeiro capelão evangélico concursado da PM do Rio.
Távora entrou na polícia em 1994, no primeiro concurso para o cargo, e passou em primeiro lugar. Antes a capelania tinha apenas padres, nomeados pelo governador. Até agora foram realizados três concursos para capelães na PM do Rio: em 1994, em 2002 e neste ano. De 1994 para cá o número de capelães na corporação dobrou, de 10 para 20.
O capelão afirma que no concurso deste ano concorreram cerca de 200 candidatos – 40 padres para as três vagas de capelães católicos e 160 pastores disputaram as duas vagas de capelães evangélicos.
Távora, que atualmente é chefe do Serviço de Assistência Religiosa da Polícia Militar do Rio, conta que decidiu se tornar capelão militar por considerar "um chamamento de Deus".
“Um pastor que já era combatente da PM me falou sobre o concurso e, como eu estava sem dirigir nenhuma igreja, apenas dando aulas em seminário à noite e aguardando uma posição da denominação, eu prestei o concurso. Percebi que tinha vocação para o trabalho religioso, que isso de levar a palavra de fé para a corporação vinha de Deus”, diz.
Militares evangélicos das Forças Armadas durante celebração da Páscoa
em Igreja Batista, no Recife (Foto: Divulgação)
Outras religiões
No país há somente capelães militares evangélicos e católicos, de acordo com Aluísio Laurindo da Silva, presidente da Associação Pró-Capelania Militar Evangélica do Brasil.
Esse foi um dos motivos que levou o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) a pedir na Justiça, no último dia 13, a anulação do concurso público da Aeronáutica para capelães e a proibição de novos concursos para o cargo nas Forças Armadas. Uma das alegações é que a escolha de apenas duas religiões pelo Estado, mesmo que majoritárias, fere o princípio da isonomia, gerando preconceito e inibindo os não-católicos e não-evangélicos de entrar nas Forças Armadas.
O MPF argumenta ainda que contratar, com recursos públicos, orientadores espirituais de qualquer religião para prestar assistência religiosa a determinados funcionários públicos vai contra o princípio de Estado laico, o que torna a seleção inconstitucional.
De acordo com Távora, seria possível abrir concurso para uma terceira religião caso fosse comprovado em novo censo religioso que há grande número de integrantes dessa doutrina na PM do Rio, por exemplo. “Nunca teve isso, a proporção do censo não chegou a essa necessidade.”
Para o padre Alberto Gonzaga de Almeida, de 41 anos, que é capelão militar católico da PM do Rio desde 2002, o Estado é laico, mas as pessoas são religiosas e é necessário prestar assistência espiritual a quem precisa. “O Estado deve oferecer essa assistência”, diz.
Almeida afirma que nunca havia cogitado a possibilidade de entrar para a vida militar quando foi convidado pelo bispo auxiliar na época. “Ele me falou sobre a necessidade de ter a presença da Igreja no meio militar, especialmente na PM do Rio, e achei esse trabalho de grande importância”, diz. Além de atuar como capelão, Almeida é pároco na Paróquia de Santa Edwiges, no Rio de Janeiro.
Na PM, o padre celebra inauguração de companhias, aniversários de batalhões, casamentos comunitários, missas, além de prestar orientação espiritual aos policiais.
“Tem que ter uma postura ecumênica, os padres e pastores trabalham num quadro só, um respeita a doutrina do outro, tudo é feito dentro da postura ecumênica de diálogo”, explica Távora. “Quando é casamento evangélico é com pastor, quando é culto ecumênico pode ser com os dois [padre e pastor], quando morre algum sacerdote católico ou familiar dele, quem faz a bênção é o padre, quando a família não é de nenhuma das duas religiões não escala ninguém.”
Altura mínima é pedida no Exército
O salário inicial é, em média, de R$ 5 mil, e pode chegar, por exemplo, a R$ 11 mil, no caso da Aeronáutica, quando o capelão atinge o posto máximo de coronel.
O Exército prevê, para o ano que vem, outro concurso para capelão militar e informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que haverá vagas para o cargo nos próximos cinco anos. Das 67 vagas de capelão militar, 61 estão ocupadas.
Os concursos para capelães militares católicos só aceitam candidatos do sexo masculino, já que apenas padres podem concorrer. Já nos processos seletivos para capelães evangélicos, dependendo da corporação, são aceitos candidatos de ambos os sexos, como é o caso do Exército. O órgão, assim como a Marinha, limita a idade dos candidatos. No Exército, também existe altura mínima para os capelães.
Os requisitos para concorrer ao cargo variam entre as corporações, mas em todas é exigido que os candidatos sejam padres ordenados ou pastores consagrados, tenham formação superior em teologia e pelo menos três anos de atividades como sacerdote ou pastor. Cada religioso pode somente preencher vagas na sua própria doutrina.
Padre celebra missa para integrantes do Exército (Foto: Divulgação)
Para ser capelão militar evangélico o candidato deve ser pastor protestante ou evangélico de denominações batista, presbiteriana, metodista, luterana, pentecostal, entre outras, segundo Silva. “Às vezes o edital traz o nome da denominação evangélica à qual o candidato deve pertencer para poder concorrer. Às vezes omite e diz apenas que o candidato deve ser pastor evangélico. Portanto, o interessado deve prestar bastante atenção a esses detalhes, pois corre o risco de ter a inscrição invalidada.”
Processo de seleção
Dependendo da corporação, para ingressar na carreira militar, os candidatos passam por provas objetivas e discursivas, teste de aptidão física, avaliação psicológica, exame médico, investigação social e da vida pregressa e prova de títulos.
Depois de serem aprovados no concurso, os novos capelães passam por um estágio de adaptação que pode durar de três a 10 meses, dependendo da corporação. Antes de entrar na PM do Rio, Távora fez um estágio de adaptação à vida militar que durou seis meses. “Tivemos três meses de atividades militares e outros três meses visitando presídios e hospitais, fazendo assistência religiosa”, conta.
Fonte:G1
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