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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rio:Comando Vermelho ameaça explodir Ponte Rio-Niterói

Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, 33 anos e a Ponte Presidente Costa e Silva – mais conhecida como Ponte Rio-Niterói

Uma carta com um conteúdo “explosivo” pode ser indício de uma série de ataques planejados por criminosos da facção Comando Vermelho (CV) a locais públicos e agentes de segurança. Entre os endereços escolhidos para os atentados, está a Ponte Presidente Costa e Silva – mais conhecida como Ponte Rio-Niterói por fazer a ligação entre os dois municípios. De acordo com a concessionária Ponte S/A, cerca de 140 mil veículos atravessam diariamente a via.

A ordem teria partido do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, 33 anos. Seria ele – que está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná – o autor de uma carta apreendida em um dos presídios do Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.

Considerado um dos líderes do CV, ele é nascido e criado em Vila Norma, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense – onde, na última quarta-feira, dia 27 de outubro, um Posto de Policiamento Comunitário (PPC) do 21º BPM (São João de Meriti) foi atacado a tiros.

O conteúdo da mensagem também está sendo divulgado por parentes e amigos de Marcinho VP, que ainda tem familiares morando em Vila Norma. A ordem seria atacar postos da PM e colocar uma bomba na Ponte Rio-Niterói. Com extensão total de pouco mais de 13 quilômetros – sendo 8,83 sobre a água – a Ponte Rio-Niterói possui seu ponto mais alto a 72 metros de altura.

Inaugurada no dia 4 de março de 1974 – pouco mais de cinco anos após o início das obras – tinha a previsão de ter um tráfego diário de cerca de 5 mil caminhões, 2 mil ônibus e 9 mil carros. O número, hoje, é quase dez vezes maior e a construção, atualmente, é considerada a maior em concreto protendido (tipo de concreto armado no qual a armadura ativa sofre um pré-alongamento, gerando um sistema auto-equilibrado de esforços: tração no aço e compressão no concreto) do Hemisfério Sul e a sexta maior ponte do mundo.

Por ser o caminho mais utilizado por quem sai do Rio de Janeiro em direção às cidades das regiões Serrana e dos Lagos, a Ponte Presidente Costa e Silva costuma receber um volume ainda maior de veículos em época de férias, feriados e vésperas de finais-de-semana prolongados.

“A informação que recebemos é de que essa ação pode ser cometida no domingo do segundo turno das eleições, pois como na terça-feira seguinte é feriado, muita gente vai viajar depois do voto”, revelou um agente da Superintendência de Inteligência do Sistema Penitenciário (Sispen) da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).

As ameaças foram encaminhadas à Subsecretaria de Inteligência (SSInte) da Secretaria de Estado de Segurança Pública, que tem coordenado ações para impedir os atos de violência ameaçados por integrantes do CV.

Em fevereiro deste ano, a Polícia já havia apreendido um bilhete escrito à mão endereçado à Vila Norma e cujo conteúdo foi atribuído ao traficante Marcinho VP. Na época, a orientação era para que comparsas queimassem ônibus e matassem autoridades caso algo fosse feito contra sua família. A determinação foi dada depois que outro cabeça do CV, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, viu familiares sendo presos na operação Família S/A, realizada por equipes da 19ª DP (Tijuca).

O bilhete, com data de 1º de fevereiro, dizia: “Amigo, fica na atividade aí que é pra dar um toque na família do patrão. Aquela mulher que foi vê-lo no sofrimento falou que vão fazer igual à família do Isaías. A ordem é pra botar fogo nos ônibus e matar as autoridades. Eles querem guerra, vão ter guerra”. O recado teria sido trazido por uma mulher que foi ao Paraná visitar o traficante.

“Pela investigação acreditamos que a mensagem chegou no Complexo do Alemão e foi distribuída para as favelas da mesma facção. Na parte de trás do papel estava escrito que aquele bilhete deveria ser entregue para a Favela Vila Norma”, explicou, na época, o delegado Júlio da Silva Filho, então titular da 57ª DP (Nilópolis).

A Operação Família S.A. foi realizada no final do mês de outubro do ano passado, com o objetivo de cumprir 36 mandados de prisão – sendo 31 preventivas e cinco temporárias – 25 de busca e apreensão e um mandado de seqüestro de bens. Do total, 23 foram cumpridos – sendo que foram presas 10 pessoas, no dia 30 de outubro de 2009, e outras 13 já estavam detidas. Entre elas, Isaías do Borel e William Rodrigues Silva, o Robocop, que é seu sobrinho.

Entre os presos, acusadas pela Polícia de levar e trazer recados dos traficantes durante as visitas, estavam Flávia dos Santos Oliveira, mulher de Robocop, e Sílvia Regina Rosário Rodrigues e Emília Costa Rodrigues, respectivamente mulher e irmã de Isaías do Borel – que está preso há 17 anos, sendo dois na Penitenciária Federal de Catanduvas, considerada de segurança máxima.

Na mesma unidade em que estão Isaías e Marcinho VP também está o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, 43 – preso em 2002 e condenado a 28 anos e meio pela morte do jornalista Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, o Tim Lopes – assassinado aos 51 anos.

Quase um ano após a prisão de familiares de Isaías do Borel, a mulher de Elias Maluco também está sendo investigada. Policiais da 32ª DP (Taquara) apuram se o patrimônio dela – estimado em R$ 2 milhões – é compatível com a renda que ela declarou ter como estagiária em um escritório de advocacia. De acordo com a Polícia, ela é suspeita de lavagem de direito e associação para o tráfico.

O delegado Leandro Aquino, adjunto da 32ª DP, afirmou que o inquérito foi instaurado em agosto, após o recebimento de uma denúncia anônima, e que equipes da distrital estiveram na casa da acusada, em um condomínio no Anil, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, na última quarta-feira, dia 27. Policiais apreenderam computadores, documentos, joias e cartas enviadas por Elias Maluco no imóvel, que tem três andares e uma piscina onde há a frase “Silvania ama Elias”.

Ainda segundo a Polícia, ela também teria outros dois imóveis em seu nome, sendo um em Maria da Graça, na Zona Norte, e outro ainda em construção, na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste. Além disso, tem quatro carros e viaja constantemente para Catanduvas, onde o marido está preso há cerca de quatro anos.

Irmão de Marcinho VP, Marcelo da Paixão Nepomuceno, o Chiclete, 37, foi preso por agentes da Sispen, no último dia 15 de outubro, quando saía de casa, acompanhado pela mulher e pelo filho, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio.

Condenado a seis anos de prisão pela 17ª Vara Criminal do Rio por tráfico de drogas e a mais de 10 anos pela 25ª Vara Criminal, também da capital, por tráfico, associação para fins de tráfico e porte ilegal de arma, ele começou a cumprir sua pena em abril de 2004. Quatro anos e dois meses depois, ele fugiu do Instituto Penal Edgard Costa (IPEC), no Centro de Niterói.

Já seu irmão, cumpre pena de 36 anos de prisão pelas mortes de André Luís dos Santos Jorge, o Dequinha, e Rubem Ferreira de Andrade, o Rubinho. Condenado por unanimidade pelo Júri Popular, ele teve a sentença lida pelo juiz Fábio Ucho Pinto de Miranda Montenegro, do 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro.

Segundo a denúncia do Ministério Público, o crime aconteceu na madrugada de 11 de outubro de 1996, por motivo torpe e meio cruel, uma vez que as vítimas tiveram suas cabeças e partes do tronco esquartejadas. Os corpos foram encontrados dentro de um bueiro. As vítimas tinham ligação com o traficante conhecido como Leite Ninho, de uma quadrilha rival à dos denunciados, que pretendia assumir o controle do tráfico no complexo do Alemão, na Penha, na Zona Norte do Rio.

Fonte:Pauta do Dia, por Roberta Trindade / anjosguardioes.com / Boletim Policial

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